Como o Prato Verde Sustentável combate o Racismo Ambiental
O racismo ambiental é a desigualdade que faz com que comunidades negras, indígenas e periféricas sejam as mais expostas à poluição, à falta de saneamento básico, à insegurança alimentar e à ausência de áreas verdes e de lazer. É uma forma de discriminação estrutural que nega a esses territórios o direito à qualidade ambiental e ao acesso a uma vida saudável.

No Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, essa reflexão se torna ainda mais urgente. O Brasil foi construído sobre mais de três séculos de escravidão, e após a abolição não houve qualquer reparação histórica para o povo negro. Milhões de pessoas recém-libertas foram largadas à própria sorte, sem acesso a moradia digna, educação, trabalho qualificado ou direitos básicos. Esse abandono forçado levou, ao longo das décadas, à formação das primeiras favelas e comunidades periféricas, territórios onde, ainda hoje, a maioria da população é negra, parda e pobre.
Essa desigualdade histórica explica por que esses territórios enfrentam, até hoje, maiores índices de violência, de falta de saneamento básico e de ausência de equipamentos públicos. E também revela como o ambiente em que as pessoas vivem influencia suas possibilidades de futuro. Não se trata de justificar a criminalidade, mas de entender que a falta de estrutura, informação, lazer, estudo e oportunidades cria vulnerabilidades que são exploradas por quem lucra com a desigualdade.
Enquanto bairros centrais acumulam infraestrutura, praças, feiras orgânicas e ar limpo, as periferias convivem com rios poluídos, lixões e terrenos abandonados e são justamente esses espaços que o Prato Verde Sustentável transforma em territórios de vida.
Transformando territórios esquecidos
O Prato Verde nasceu nas bordas da cidade de São Paulo, onde o racismo ambiental é mais evidente. Ali, a ONG transforma áreas degradadas em hortas agroecológicas comunitárias, levando educação ambiental, alimentação saudável e geração de renda para famílias que sempre estiveram à margem das políticas públicas.
Em Brasília e São Paulo, o projeto atua dentro dos bairros periféricos, promovendo formações socioambientais e oficinas práticas em agroecologia que aproximam a juventude da natureza e fortalecem o sentimento de pertencimento e cuidado com o território.
Ao fazer isso, o Prato Verde também combate uma outra forma de racismo: o racismo informacional. Nas periferias, o acesso limitado a informações sobre saúde, direitos, meio ambiente e oportunidades contribui para manter desigualdades. O trabalho educativo do Prato Verde devolve conhecimento, autonomia e consciência crítica à comunidade.
Empregabilidade e justiça social
Hoje em 2025, o Prato Verde conta com 54 colaboradores, em sua maioria, pessoas negras. Isso representa muito mais que números: é a prática da justiça ambiental e racial no cotidiano.
A criação de empregos verdes dentro da própria comunidade fortalece a economia local, rompe ciclos de exclusão e mostra que é possível unir sustentabilidade, dignidade e equidade racial.
Além disso, o projeto apoia iniciativas de formação técnica e empreendedorismo, estimulando que moradores se tornem protagonistas da transformação ambiental de seus próprios bairros.
GEAMA: esperança e recomeço para a juventude
O GEAMA (Gerenciamento em Meio Aberto) é uma das frentes mais potentes do Prato Verde. Em regiões como Samambaia e Planaltina (DF), o projeto realiza oficinas de agroecologia com adolescentes e jovens em conflito com a lei, conectando o cuidado com a terra ao processo de formação humana e reintegração social.
Esses jovens participam de atividades práticas em assentamentos rurais, onde há falta de mão de obra e, ao mesmo tempo, abundância de potencial transformador. A convivência com o campo, com a produção de alimentos e com os valores da agroecologia devolve esperança, propósito e pertencimento a quem muitas vezes foi excluído pelo sistema.

Educação e consciência crítica
Por meio das formações e vivências ecológicas, o Prato Verde leva para escolas, empresas e comunidades a reflexão sobre racismo ambiental, justiça climática e soberania alimentar. Jovens periféricos descobrem que fazem parte da solução e podem ser protagonistas da mudança e não apenas espectadores dos problemas sociais.
Ao usar a agroecologia como ferramenta de emancipação, o Prato Verde reafirma que a periferia é um ecossistema vivo, criativo, cheio de soluções próprias e capaz de gerar modelos de futuro que unem natureza, cultura, coletividade e dignidade.